O Northeast vive um momento raro de otimismo econômico. A Chamada Nordeste da Nova Indústria Brasil selecionou 189 projetos que somam R$ 113 bilhões em investimentos para a região, quase 11 vezes o valor de crédito inicialmente previsto pelo governo federal.
Os recursos se concentram em setores de green industry, como energias renováveis, hidrogênio verde, data centers de baixo carbono, bioeconomia farmacêutica e cadeia automotiva ligada a máquinas agrícolas. A aposta é reposicionar o Nordeste no mapa industrial brasileiro, gerando empregos qualificados e novas cadeias produtivas em todos os nove estados da região.
Por trás dos anúncios, porém, há um obstáculo silencioso. A falta de skilled labor ameaça atrasar obras, encarecer projetos e reduzir o impacto social desse pacote bilionário, em especial nas áreas de engenharia, tecnologia e operação industrial avançada.
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Estudos recentes mostram que 84 por cento das empresas brasileiras têm dificuldade para contratar profissionais qualificados, segundo o Índice de Confiança Robert Half. Na indústria, pesquisas apoiadas pela Fiesp indicam que cerca de 77 por cento das fábricas em São Paulo enfrentaram problemas para preencher vagas entre 2024 e 2025, o que ilustra o tamanho do desafio que o Nordeste terá de enfrentar para tirar do papel seus novos projetos.
R$ 113 bilhões alavancam a indústria verde e a neoindustrialização no Nordeste
A Chamada Nordeste integra a estratégia de New Industry Brazil, política de neoindustrialização lançada pelo governo federal para estimular projetos sustentáveis e intensivos em tecnologia. Na região, o edital foi estruturado em parceria entre BNDES, Banco do Brasil, Caixa, Banco do Nordeste e Finep, com apoio técnico da Sudene e do Consórcio Nordeste, e acabou aprovando 189 propostas que somam R$ 113 bilhões em investimentos.
O resultado superou com folga as expectativas iniciais, que previam algo em torno de R$ 10 bilhões em crédito para a região. De acordo com a Sudene e o Consórcio Nordeste, o volume final é quase 11 vezes maior e tem um forte componente de inclusão produtiva, já que cerca de 74 por cento das propostas aprovadas vieram de micro, pequenas e médias empresas.
A maior parte dos recursos será direcionada a projetos de green hydrogen, armazenamento de energia, data centers verdes, bioeconomia e descarbonização de cadeias já instaladas. Governadores como o do Piauí, Rafael Fonteles, têm defendido que o pacote corrige a histórica sub-representação do Nordeste no PIB industrial brasileiro e pode consolidar a região como polo global de combustíveis limpos e tecnologias digitais.
Déficit de engenheiros e técnicos escancara crise na formação profissional
A euforia com o crédito contrasta com dados duros do mercado de trabalho. O próprio Índice de Confiança Robert Half mostra que 84 por cento das empresas já enfrentam dificuldades para contratar profissionais qualificados, sinal de que o problema é estrutural e não pontual.
Na indústria, o cenário é ainda mais preocupante. Levantamentos recentes apoiados pela Fiesp apontam que cerca de 77 por cento das empresas industriais em São Paulo tiveram dificuldade para preencher vagas entre 2024 e 2025, e que apenas uma minoria dos jovens deseja trabalhar no setor fabril.
No caso brasileiro, o gargalo se concentra especialmente em engineering. Segundo o economista pernambucano Edgar Leonardo, citado em reportagem do portal Movimento Econômico, o número de universitários matriculados em cursos de engenharia caiu cerca de 25 por cento entre 2015 e 2023, em um país que já forma proporcionalmente menos engenheiros que outras economias emergentes.
O especialista atribui esse desinteresse a uma combinação de falhas na educação básica, dificuldades financeiras das famílias e percepção de que a carreira exige esforço prolongado sem retorno imediato. Em muitos casos, estudantes abandonam o curso antes da conclusão, o que agrava o descompasso entre a demanda da indústria e a oferta de profissionais qualificados.
Para o Nordeste que se prepara para receber plantas de hidrogênio verde, e-metanol e data centers verdes, o efeito é duplo. A região precisa disputar o pouco talento já formado com eixos mais ricos do país e, ao mesmo tempo, acelerar a qualificação local para que os empregos do futuro não sejam preenchidos apenas por profissionais vindos de fora.
Suape vira laboratório da transição energética e do apagão de talentos
O Complexo Industrial Portuário de Suape, em Pernambuco, ilustra com clareza esse paradoxo. O governo estadual assinou contrato com a GoVerde para instalar uma fábrica de e-metanol derivado de hidrogênio verde, com investimento estimado em R$ 2 bilhões na primeira etapa e início de operação previsto até 2028, além de outras plantas similares já anunciadas na região.
Esses projetos prometem milhares de empregos diretos e indiretos em engenharia, operação industrial e serviços de apoio, mas dependem de um contingente de profissionais que ainda não existe em número suficiente. Para tentar se antecipar, Suape estruturou o Censo Suape 2024 como ferramenta de mapeamento de gargalos de qualificação e ampliou a articulação com Senai, Senac, IFPE e outras instituições, alinhando cursos técnicos e programas de estágio às necessidades reais da nova indústria portuária.
Escolas técnicas e formação digital correm para acompanhar a Nova Indústria Brasil
A Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco afirma que vem ampliando a rede de Escolas Técnicas Estaduais para atender à demanda criada pelos novos investimentos. De acordo com informações divulgadas pela gestão estadual e compiladas pelo Movimento Econômico, o estado projeta a abertura de 15 novas unidades e mais de 15 mil vagas, além de fortalecer o itinerário de formação técnica no ensino médio e programas de qualificação rápida como o Trilhatec.
A capital pernambucana também aposta na digital talent development, peça central para sustentar data centers verdes e empresas de tecnologia ligadas à nova matriz industrial. O programa Embarque Digital, parceria da Prefeitura do Recife com o Porto Digital, oferece bolsas em cursos superiores de tecnologia voltados a egressos da rede pública e já beneficiou milhares de jovens em situação de vulnerabilidade, conectando-os a vagas em empresas de TI do próprio ecossistema local.
Apesar desses esforços, especialistas alertam que ainda é preciso ganhar escala e integrar melhor as políticas de educação e inovação com os planos da New Industry Brazil. Sem metas claras para reverter a queda na formação de engenheiros e técnicos, o risco é que o ciclo de investimento de R$ 113 bilhões se converta em oportunidade perdida, com obras atrasadas e empregos de alta renda migrando para outras regiões ou mesmo outros países.
Na sua opinião, faz sentido anunciar bilhões em crédito para hidrogênio verde e indústria 4.0 se o país não forma engenheiros e técnicos na mesma velocidade. O poder público deveria priorizar bolsas, estágios e incentivos fiscais para empresas que invistam pesado em qualificação local, mesmo que isso encareça projetos no curto prazo. Deixe seu comentário e diga se você acredita que o Nordeste corre o risco de ver a nova indústria chegar sem que a população da própria região ocupe a maior parte das vagas do futuro.



